Paulo Machado
Ouvidor Adjunto da EBC
Brasília - Uma foto eterniza uma imagem mesmo que esta não corresponda à verdade absoluta, mas a uma verdade fabricada, aquela que se quer passar adiante. A imagem retratada, ao mesmo tempo em que apreende o real, reflete o ponto de vista de seu autor e por isso o caráter subjetivo da fotografia não pode ser desprezado. Todavia, quando se trata de uma agência pública de notícias, a função da fotografia é informar de maneira objetiva ao leitor que, da mesma forma que tem direito à informação precisa e honesta no texto que lê, não deve ser induzido a nenhum tipo de conclusão por meio das imagens que vê. Uma agência pública não faz jornalismo com a opinião de seus profissionais. A impessoalidade é um critério e um princípio do serviço público e, portanto, da comunicação pública.
O leitor Halley Polastrini escreveu: “Adoro o jeito imparcial com que são apresentadas as reportagens da Agência Brasil. Contudo, não é de hoje reparo que as fotos veiculadas neste site têm seu caráter subliminar, para não dizer caricato. Prova disso é o click certeiro no senador Álvaro Dias ao mesmo tempo em que ele passa por quadro com a gravura de um tucano. A impressão que dá é a do senador com um bico de tucano. Não sei se foi uma brincadeira ou uma extrema coincidência. Mas é como eu disse, não é a primeira vez que testemunho este tipo de 'linguagem'. Acho que a credibilidade a Agência dispensa o emprego desta técnica.”, referindo-se à foto(*) publicada dia 28 de julho. A Agência Brasil respondeu: “Agradecemos o comentário do leitor.
Um outro exemplo deste tipo de foto havia sido publicado(**) em 25 de fevereiro no qual mostrava o presidente do STF, ministro Gilmar Mendes coroado por uma auréola luminosa.
Três dias antes, o ministro havia protagonizado um bate-boca com seu colega, ministro Joaquim Barbosa, que o criticou, responsabilizando-o por supostamente contribuir para uma imagem negativa do Poder Judiciário perante a população. Qual a relação entre o fato e a foto?
A foto faz um registro histórico do momento, um instante que não poderá ser reproduzido, levando-se em consideração a época, os costumes e as tradições que ficam eternizados no instante fotografado. Daí decorre seu valor como representação de uma realidade. Muitos dirão, a respeito das fotos a que nos referimos, que o fotógrafo apenas soube aproveitar a oportunidade que o momento proporcionou registrando a imagem com a perspicácia do olhar fotográfico que lhe é próprio da profissão. Tal opinião seria válida se a Agência Brasil fosse apenas um site fotográfico que privilegiasse a fotografia enquanto linguagem artística, independentemente do compromisso com a informação
Outro leitor, Beto Paschoalini, também reclamou desse tipo de foto. No dia cinco de agosto ele escreveu: “A Agência não é feita para fazer propaganda do Governo, certo? Nem a favor, nem contra. Considero ultrajante a foto escolhida e publicada para ilustrar a visita do assessor e conselheiro de Segurança Nacional dos Estados Unidos, general James Jones, ao ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim. A escolha tem o nítido propósito editorial de diminuir o ministro brasileiro diante do representante americano, o que definitivamente não deveria ser critério de uma agência brasileira. O nanismo, no caso infelizmente restrito às entrelinhas, está na postura do responsável pela edição.”, sobre a foto(***). A Agência Brasil respondeu; “A observação do leitor é pertinente e será tratado pelo corpo editoral da Agência.”
São pelo menos três casos, dos quais, dois deles, percebidos pelos leitores. Para o professor de fotografia Enio Leite(****): “ A fotografia, de fato, não representa apenas o resultado de um simples 'clique'. A subjetividade que lhe é própria pode mentir, provocar, chocar, gerar cumplicidade, evocar sensações sensuais ou de dor, movimento, odor, som, etc. Proporciona prazer estético, e, também, manipular a opinião pública em favor dos interesses do próprio autor”.
No fotojornalismo a função da fotografia é documentar com imagens as informações contidas no texto da notícia. O repórter fotográfico não se aprofunda em considerações estéticas, pois seu objetivo é comunicar e transmitir mensagens informativas de interesse do leitor. Esses profissionais devem antes de tudo pensar em seus leitores, seus destinatários. O assunto definido pela pauta é o objeto e a fotografia o transmite. O seu trabalho não se destina a gerar influências e a fotografia não pode ultrapassar o real fotografado com mensagens subliminares.
O impacto de uma situação inusitada, eventualmente, pode ser um elemento fundamental desde que a fotografia contemple o objetivo de informar. Nas fotos citadas, percebe-se que esse objetivo se tornou secundário ressaltando aos olhos dos leitores um contexto que vai além, transpassa o fato e o interpreta sob critérios subjetivos e até mesmo ideológicos.
Em uma agência de notícias como ABr, são os editores que decidem o que é publicado, que informação deve ser destacada, quais fotografias irão para a primeira página e quais restarão no banco de imagens ou serão descartadas. Se o repórter extrapolou o assunto pautado, a edição tem a função de coibir eventuais abusos e não publicar as fotos. Nos casos citados, a edição não cumpriu esse papel conforme salientou o leitor Beto Paschoalini.
Até a próxima semana.
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