"A 8ª Mostra de Cinema de Taguatinga resgata imagens históricas de um momento heróico vivido pela cultura na cidade no início dos anos 80. São fotos em branco e preto tiradas pelo Ivaldo Cavalcante, detentor do Prêmio Rei de Espanha de Fotografia, entre outros. A cidade fervilhava. Multidões enchiam o norte, o sul e o centro de Taguatinga. Facultas, Semanas de Arte, Ateliês na Praça davam o tom, a cor e a vida que Taguatinga jamais teve. Crianças, jovens, adultos e velhos reunidos na rua sob o sol do cerrado, nas arquibancadas do Rolla Pedra, sob o teto do Teatro da Praça pra ver a banda tocar, a cobra mamulengueira fumar e o zé pretinho dar nó em pingo d’água. Ivaldo estava ali, onipresente, discreto, invisível, clicando tudo e todos, colhendo provas irrefutáveis de que um dia, no passado, Taguatinga brilhou com luz própria, feito um cometa apressado que deixou saudade.
Selecionei imagens com o olhar de um perito, como quem escolhe provas contundentes para um inquérito, demonstrando que um dia esta cidade viveu de forma independente e soberana. Andou com as próprias pernas e teve cabeça pensante. Eu testemunhei, o Ivaldo documentou. Todos esses que aí estão também são testemunhas de que uma cidade existiu de verdade. Taguatinga tinha alma de artista e a cultura era o seu quitute maior. Enchíamos a barriga esfomeada da alma com música, dança, cinema, teatro, artes plásticas, literatura, artesanato e o escambau.
Acompanhando as imagens, percebe se o quanto pode se abusar e maltratar uma cidade. A caixa d’água é o símbolo maior desse desatino. Na falta de um bem cultural maior, digno de preservação, ela foi tombada. Primeiramente, por uma caneta e, posteriormente, por marretas e britadeiras. E assim se faz com tudo o que poderia ser patrimônio da cultura popular brasileira. Não é a caixa d’água em si, mas a gota d’água que separa a elite e o povo. O erudito e o popular. O desrespeito às pessoas. Pergunto, se a Grande Muralha da China não serve mais para a defesa do seu povo, por que ainda continua lá, intacta? Não se mede a importância das coisas pela utilidade imediata que elas proporcionam.
O tempo passou, envelhecemos na cidade cadáver, morta pela ambição do crescimento fácil e desordenado. O centro, onde as pessoas conviviam e se juntavam ganhou um muro de Berlim, com tábuas metálicas de curral, a separar a população pedestre dos lados norte e sul da cidade, como gado manso num abatedouro. Fluxo desumano e assassino. O preço da travessia pode ser a morte por atropelamento, pelos carros que corroem a dignidade das pessoas e limita sua liberdade fundamental de ir e vir.
As fotos do Ivaldo nos redimem da omissão, que outrora não tivemos e nos devolve a coragem de brigar por valores ainda sementes nesse solo árido de uma cidade em coma."
Selecionei imagens com o olhar de um perito, como quem escolhe provas contundentes para um inquérito, demonstrando que um dia esta cidade viveu de forma independente e soberana. Andou com as próprias pernas e teve cabeça pensante. Eu testemunhei, o Ivaldo documentou. Todos esses que aí estão também são testemunhas de que uma cidade existiu de verdade. Taguatinga tinha alma de artista e a cultura era o seu quitute maior. Enchíamos a barriga esfomeada da alma com música, dança, cinema, teatro, artes plásticas, literatura, artesanato e o escambau.
Acompanhando as imagens, percebe se o quanto pode se abusar e maltratar uma cidade. A caixa d’água é o símbolo maior desse desatino. Na falta de um bem cultural maior, digno de preservação, ela foi tombada. Primeiramente, por uma caneta e, posteriormente, por marretas e britadeiras. E assim se faz com tudo o que poderia ser patrimônio da cultura popular brasileira. Não é a caixa d’água em si, mas a gota d’água que separa a elite e o povo. O erudito e o popular. O desrespeito às pessoas. Pergunto, se a Grande Muralha da China não serve mais para a defesa do seu povo, por que ainda continua lá, intacta? Não se mede a importância das coisas pela utilidade imediata que elas proporcionam.
O tempo passou, envelhecemos na cidade cadáver, morta pela ambição do crescimento fácil e desordenado. O centro, onde as pessoas conviviam e se juntavam ganhou um muro de Berlim, com tábuas metálicas de curral, a separar a população pedestre dos lados norte e sul da cidade, como gado manso num abatedouro. Fluxo desumano e assassino. O preço da travessia pode ser a morte por atropelamento, pelos carros que corroem a dignidade das pessoas e limita sua liberdade fundamental de ir e vir.
As fotos do Ivaldo nos redimem da omissão, que outrora não tivemos e nos devolve a coragem de brigar por valores ainda sementes nesse solo árido de uma cidade em coma."
Omar Franco – artista plástico
Taguatinga, 07 de maio de 2008.
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