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segunda-feira, 5 de maio de 2008

Governador comilão.



No Congresso, parlamentares da oposição e da base governista continuam a gincana para saber quem fez maiores e mais supérfluos gastos com as verbas do Palácio, se o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso ou se o atual, Luiz Inácio Lula da Silva. É uma disputa nonsense, útil para alimentar a indignação de uma meia dúzia e justificar o adiamento de discussões relevantes ao País. E que fica sem sentido quando se percebe que sempre é possível extrair um “escândalo” da análise de dados do tipo, sejam federais ou estaduais.

Basta ver os dados oficiais sobre o consumo do governador do Distrito Federal, José Roberto Arruda, filiado ao ex-PFL. Em 2007, a residência oficial de Águas Claras registrou compras de alimentos de fazer inveja a qualquer batalhão. Foram consumidos 2,1 toneladas de camarão, 1,5 tonelada de filé mignon e 165 quilos de lagosta. De queijo, foram 4,2 toneladas, sendo mil quilos do tipo Minas, certamente uma homenagem às origens do governador, natural da cidade de Itajubá. Há, em Águas Claras, uma forte preferência por pescados. Além dos camarões e das lagostas, 765 quilos de bacalhau e 114 quilos de carne de siri também fizeram parte do cardápio oficial. Os gastos somam cerca de 700 mil reais.

No papel de oposição no Distrito Federal, coube ao PT levantar as informações sobre os gastos da residência oficial. O responsável pelo levantamento foi Cabo Patrício, líder do partido na Câmara Legislativa do DF. As notas de empenho das despesas foram acessadas por meio do Sistema Integrado de Gestão Governamental (Siggo), de registro de movimentação orçamentária e financeira do governo local, disponível apenas aos deputados distritais. É um expediente semelhante ao Siaf, acessado por deputados federais e senadores, no qual ficam registradas as despesas da administração direta federal.

Segundo Paulo Pestana, assessor de imprensa de Arruda, até o ano passado, a população flutuante da residência passava de 300 pessoas, razão pela qual teria havido um gasto tão grande com comida. Tratava-se, diz o assessor, de policiais militares e civis designados para a segurança do governador, esquema herdado dos tempos de Joaquim Roriz. O efetivo, garante Pestana, foi enviado, neste ano, para patrulhar as ruas do Distrito Federal. Além disso, boa parte da comida teria sido consumida em eventos.

“O governador fez da residência uma extensão do Palácio do Buriti (sede do governo, hoje em Taguatinga)”, explica Pestana. “Toda semana há de duas a três recepções por lá”, afirma. O assessor, no entanto, não soube dizer o número exato de recepções ocorridas em Águas Claras no ano passado nem a quais batalhões da PM e delegacias da Polícia Civil pertenciam os ditos 300 seguranças que perambulavam pela casa do governador.

Mesmo com tanta gente para pegar a bóia na casa do governador, ainda sobra muita comida, ao menos de acordo com as notas de empenho levantadas por meio do Siggo. Feitas as contas, o consumo diário na residência de Águas Claras, no ano passado, chegou a 158 quilos de carne, 24,7 quilos de arroz, 50 litros de refrigerante, 15,5 quilos de pão e 5,2 litros de sorvete. A residência oficial do governo do Paraná, maior em tamanho e importância do que a do Distrito Federal, é um bom exemplo de comparação. Sob pressão permanente da oposição formada pelo PSDB e o ex-PFL, Roberto Requião foi acusado de abusar nos gastos com comida, em 2007: 27,2 mil reais em pescados e 32,9 mil reais em carnes nobres. Nos mesmos itens, Arruda gastou 32 mil, apenas em camarão, e 51,6 mil com carnes sortidas.

Fonte: Matéria Carta Capital - Leandro Fortes

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