Resolvi escrever aqui sobre o programa depois de fazer uma pequena busca sobre a repercussão do programa na mídia e perceber o quanto a sua fala ainda é (propositadamente) incompreendida ou, até mesmo, menosprezadas pela grande mídia.
Em um debate memorável, Mano Brown abordou a relação centro-periferia, política, música, pirataria, família e criminalidade. Ficamos todos admirados com a coerência e a verdade por trás de cada fala do artista, mas sobretudo com o despreparo dos jornalistas para lidar com realidades diversas daquelas vividas e apresentadas pelas classes mais abastadas. Exceção que fazemos à participação da psicanalista Maria Rita Kehl, que ajudou a traduzir a complexidade da fala de Mano Brown para aquela parcela da elite plugada na TV Pública.
Alguns assuntos discutidos no programa merecem destaque. A certa altura Brown disparou: “eu não tenho discurso”. Realmente ele não constrói suas falas para controlar seus efeitos. Não está preocupado em sustentá-las em conceitos, ideologias, movimentos, instituições. Elas são frutos de sua vivência e guardam espantosa e coerência e verdade com seu mode de viver e encarar seus desafios de artista e líder social.
O rapper também nega, aliás, o rótulo de político, líder de movimento ou qualquer coisa que o institucionalize. Raramente participa de programas na grande mídia (exceção feita ao Roda Viva), não se integra aos sistemas tradicionais de mercado e convence a todos de sua real conexão com a sua comunidade e a realidade onde está inserido.
Práxis é a palavra que utilizei para definir a relação entre o pensamento do rapper e sua vida cotidiana. Algo incomum nos dias de hoje, Mano Brown age como pensa ou pensa como age.
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